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De Proscrito a Mito Parte IV – Forjando o Mito 2

                   artigo anterior em http://fregablog.blogspot.com/2022/08/de-proscrito-mito-parte-iii-o-limbo-2.html

O plano para tomada do poder político pelos militares foi favorecido pelas circunstâncias do projeto de poder gestado na Lava-Jato.

A demonização da política com a utilização de meios até ilegais era a tática dos togados para assumirem o poder. Os fardados, incontestavelmente mais capazes do que os togados para formular estratégias complexas e elaboradas, aproveitaram-se do movimento judicial para a derrubada do governo de centro-esquerda sem os desgastes decorrentes.
O passo seguinte seria a tomada do poder em eleições com imagem  de regularidade. A operação psicológica estava em andamento.

Bastava manter as aparências no jogo duplo.

(https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/05/gravacao-revela-que-impeachment-foi-golpe-para-conter-lava-jato-192/)

Simultaneamente, escolhido para assumir o poder político em nome dos militares na primeira eleição, começou a ganhar todos os espaços nos quartéis, não havia solenidade em que não lhe fosse dado palanque. Não só de oficiais, mas também de praças. Desde curso de cabo até novas turmas de policiais das PM.
Onipresente, aproximando e radicalizando o discurso. Uma forma de unir as corporações como uma sociedade à parte.

Operado o impedimento da presidenta, essencialmente por falta de apoio político como preconizou Jucá, assume o Vice já comprometido com as teses neoliberais tão do gosto dos militares, com quem negociou compromissos para estabilidade do mandato tampão.
Nesse contexto, generais ocuparam funções e marcaram presença já dentro do Planalto e também no STF.
Restavam dois anos para que a eleição fosse disputada, os políticos togados, com o apoio da mídia de massa, buscavam anular a imagem popular de Lula, necessário para a disputa de poder.
Os políticos fardados deixaram os togados com esse desgaste, não representavam ameaça a seus planos para 2018. Para 2022 haveria tempo de serem neutralizados. Tudo a seu tempo.

A única ameaça real para 2018, Lula, mesmo preso era o favorito.
Quando ocorreu a possibilidade real de poder disputar as eleições no julgamento de um HC no STF, aí sim interferiram, ameaçando e intimidando os Ministros do Supremo para que a candidatura fosse impedida.

"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?
Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", foi a mensagem do comandante do Exército, Villas Bôas.
Surtiu o efeito, o HC foi negado, até porque, nos bastidores e havendo um dos generais como assessor do presidente do STF, certamente o recado explícito foi transmitido.
A intenção de intervir e concretizar o golpe foi reconhecida posteriormente pelo próprio Villas Bôas em entrevista à Folha.

 https://www.conjur.com.br/2018-nov-11/villas-boas-calculou-intervir-stf-hc-lula

O ápice da operação psicológica foi a facada em Juiz de Fora. Intencional e articulada, ou não, assegurou a eleição. Pode ter sido um golpe de sorte, pode ter sido somente um golpe. Talvez a história um dia desvende. Mas o fato é que o Mito, forjado no planejamento para a tomada do poder, foi eleito.

Os passos seguintes deveriam neutralizar os políticos togados, já não eram necessários, e enfraquecer as instituições. As duas coisas começaram a acontecer já no dia da posse do novo governo.
Do Alto Comando do Exército de 2016, pelo menos 90% passaram a ocupar funções no Executivo, além de alguns generais ainda na ativa.
O governo militar por origem e neoliberal por doutrina chegou ao poder central.
Daí em diante o Mito passou a ser simplesmente a ferramenta para exercício do poder.
Aparentes dissidências começaram a surgir, muito provavelmente conforme o planejamento. Haveria necessidade de aparentar uma ala legalista para se contrapor à disruptiva. Esse jogo de cena seria necessário até para a estabilidade na ruptura institucional e manutenção do poder. 

Habilmente assumiram o duplo papel de situação e oposição, como forma de neutralizar o fortalecimento de alguma corrente oposicionista. Para isso contaram com uma parte da imprensa que dava divulgação, consciente ou inconscientemente, às notas plantadas, às inconfidências ao pé de orelha.
E assim chegamos à eleição de 2022 com um país desconstruído e desarticulado, dividido, sucateado,  com ódios explícitos sob olhar de um deus particular e armamentista, que resolveu ser político também.
Talvez por tédio no paraíso

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