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No Despeito de um Desafinado (Por FregaJr)

 No despeito de um desafinado também bate a frustração. Revisitando João Gilberto, o genial.

Não tão genial é o despeitado. Bem ao contrário, aliás. 
É a materialização das coisas inexplicáveis. Poderia ser só ignorante, há espertos que se dão bem apesar disso.

Poderia ser só burro, há tantos menos privilegiados de inteligência que compensam brilhantemente uma eventual limitação pela dedicação ao estudo.
Então, como um cara ignorante de quatro costados e com sérias limitações no pensamento e abstrações consegue ser aprovado num concurso para a magistratura, que todos sabemos ser bastante disputado?
Mistérios da meia noite, das meias verdades, dos meios escusos talvez.
Mas enfim. Bolsonaro não se formou na AMAN? Então tudo é possível em excepcionais conjunções de astros.

Moro foi um desses mitos criados nos tempos de pós-verdades. Pensou-se protagonista, era um mero peão no tabuleiro do poder político, um dia ainda saberemos inquestionavelmente quem lhe manejava pelos cordéis.
Haverá, um dia, de serem tornados públicos documentos dos Departamentos de Estado e Justiça. Da CIA talvez. Saberemos de onde vinham as diretrizes, ainda que mascaradas.
Os Órgãos de Inteligência têm suas técnicas de cooptação, por vezes a vaidade substitui o dinheiro, por vezes a luxúria até dispensa a chantagem.
Não sei, estou especulando, mas o fato é que um sujeito ignorante, burro e até mal-intencionado virou ícone nacional. E instrumento para a tomada do poder político pelos dirigentes militares.

Como é inconteste o alinhamento de nossas Forças Armadas às estadunidenses - há até um general nosso da ativa subordinado diretamente a um deles numa força para projeção do poder geopolítico sobre o que consideram seu quintal - pode-se especular também até onde o então ícone, hoje despeitado marreco, não teria sido somente o instrumento.
Chiclete mastigado, garantiu a tomada do poder promovendo a maior quebra nacional até hoje verificada, retirando o Brasil do protagonismo das potências emergentes. Foi cuspido assim que não era mais necessário, ganhou uma bolsa milionária de uma das fachadas da Inteligência, prêmio de consolação.
Se deu bem, ora, onde está a burrice?
Pois está exatamente em não conseguir se perceber como chiclete mastigado. Imaginou, em sua vaidade hipertrofiada, que o mundo se encantava com sua presença e grasnados.
Trouxa!

É lançado à presidência pelo "dono" de um partido que disputaria o Senado pelo Paraná. Político velho, raposa antiga. Pretendia se aproveitar dos votos a mais que ganharia colando sua imagem à do ídolo de pés de barro, mas ainda com prestígio na terra das araucárias.
Em dobradinha com um candidato à presidência, avançaria sobre o eleitor da direita-extrema direita pelo voto casado.

Não, o olho estava aberto, sabia que a candidatura à presidência já não tinha mais viabilidade eleitoral, os pés de barro já se haviam quebrado. Mas traria votos, se colocaria provavelmente no quarto lugar da corrida presidencial.

O partido, o Podemos, aquele que perdeu o H, lançou sua pré-candidatura com pompa e circunstância. Até filmete na Praça dos Três Poderes caminhando com ares de vingador do futuro, de Bat Masterson do Paranoá, de valente e destemido da República dos Pinheirais.
Roupa preta, abas do paletó panejando ao vento, passos decididos. Olhar ao infinito, queixo lambrosiano.
Gastaram uma grana com ele, claro, de olho nos votos ao Senado pelo Paraná. Entretanto, na undécima hora, deu chabu.
A burrice vaidosa prevaleceu.

Um partido maior, o União Brasil, acenou-lhe com vaga para disputa presidencial.Muito mais tempo de TV, mais recursos do Fundo Partidário. Encantou-se.

Deu um pé no tororó do ex-apoiador e virou de banda. Na véspera do limite para filiações partidárias, o que concedeu à sua conja o recorde de menor tempo de filiação partidária.
Num dia filiou-se ao Podemos (que com a rasteira readquiriu o H e, de quebra, o pronome oblíquo átono nos) e, no dia seguinte, menos de 24 horas, desfiliou-se para ingressar no novo partido.
Fidelidade partidária programática exemplar.

Passado o prazo da filiação, sendo morta Inês, a conversa virou um não é bem assim, ninguém lhe prometeu a legenda para a presidência, era um mal entendido. Mas ele seria muito bem-vindo caso se candidatasse a Deputado Federal por São Paulo. Bobinhos, né, seria um puxador de votos na eleição proporcional, ajudaria a formar uma bancada na Câmara Federal.
Indignou-se em desafinada indignação. Como assim? Mero deputado Federal? Nunquinha!
Na pior das hipóteses Senador e para liderar a oposição a um possível governo Lula, se cacifando para 2026. Estratégico o malandro porco.
Como se não tem tu vai tu mesmo, toparam lançar a conja para Deputada Federal por São Paulo, na expectativa de que sobrasse algum respingo de votos solidários a Moro.
E a legenda partidária para o Senado lhe ficaria assegurada.
Deu chabu mais uma vez.

A fraude tentada para comprovar o domicílio eleitoral foi denunciada. Nem seu próprio partido estava lá muito interessado em assegurar-lhe a legenda, sua imagem estava derretendo como uma estátua de cera no Sahara. Estava virando uma mala sem alça, daquelas difíceis de carregar. Não colou.
O fato, entretanto, sinalizou que os conjes não dividem o mesmo domicílio. Pitoresco.
Alternativamente, voltou para seu domicílio eleitoral real, o Paraná, mas agora disputando os votos com quem lhe lançou, o Álvaro Dias, candidato também ao Senado em reeleição. E neste ano, renovação de 1/3, só há uma vaga. Não dá pros dois.

A furada de olho ficou escrachada, a ingratidão e mau caratismo também. Se a política suporta a traição, odeia os traidores. Vai mal na campanha, onze pontos percentuais abaixo de seu ex-apoiador e em queda livre. Adquiriu a condição de político contaminante, ninguém o quer por perto.

As portas se fecham, os auditórios se esvaziam e até seus antigos cúmplices na Lava Jato, também em busca de foro privilegiado e alguma proteção institucional corporativa, como o de bochechas rosadas e caráter transparente, já está apoiando seu adversário.

Tempestades pela frente. O que lhe sobrou?
Ser comentarista de Twitter em tempo real da entrevista de Lula, seu perseguido, invejado e odiado, no Jornal Nacional.
O ostracismo é crescente, a marrequice é patética. Faz sentido, patos e marrecos, anatídeos, 
dois patinhos na lagoa. Coincidentemente o número do cara a quem estava ligado feito unha e carne. Ele como juiz, ele como candidato.
Moro ainda responderá por crimes na Primeira Instância, sem imunidades, privilégios ou proteções.

E não será por burrice, essa é lamentável, mas não é crime.
Vai ser bonito ver.
E é só aguardar.

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