Ninguém, que olhasse a sério, fosse pesquisar por meia hora, tinha ilusão sobre Bolsonaro. Era ladrão de galinhas, nomeava a dona de banquinha de praia como assessora, cobrava num mês gasolina que daria para dar volta ao mundo, gastava o auxílio moradia -- como ele confessou, sem vergonha -- “para comer gente”.
Nomeava assessores que não iam ao trabalho, e tirava uma parte boa do salário deles pra comprar imóveis, com dinheiro vivo. Os filhos, que viraram políticos, foram educados a fazer o mesmo. Tinha contatos com a ultra direita estrangeira, que tinha sobrado do nazismo e do fascismo.
Quando fazia alguma coisa -- momentos raros de uma carreira de dezenas de anos -- era discurso defendendo policial bandido, ou bandido mesmo. Juntava-se de vez em quando com pastor picareta e aí falava em Jesus, cristianismo, e metia o pau em corrupto, sem ficar vermelho.
Trocou de partido, passou por quase todos os que vendem mandato pra quem der mais.
Só um conjunto de circunstâncias infelizes deixou que essa cabeça vazia chegasse ao centro das atenções. Seu destino se cruzou com o golpe. Deram-se muito bem.
A elite brasileira não aguentava mais o PT, que combatia fome, abria escolas, importava médicos para atuar nas periferias, fazia milhões de casas para pobres. Se continuasse assim esse partido ia ficar pra sempre no poder.
Interessante que o PT fez tudo isso sem criar problemas para o andar de cima. Depois de tantos golpes na América Latina, nos vizinhos mais próximos, sabia da importância de ir devagar com o andor. Coisa que os mais entusiasmados não entenderam, acharam que se pode fazer tudo ao mesmo tempo, passando por cima de interesses firmemente estabelecidos, que não permitem desvios.
Mesmo assim, inventaram desculpa fajuta pra criar caso com uma presidente honesta, direita, que não tinha paciência para aturar negociata, especialmente as grandes, das grandes corporações empresariais estrangeiras. Que gostavam tanto dela quanto ela gostava delas. Sempre foi uma relação tensa.
Nas eleições de 2014 as coisas chegaram perto do rompimento. Dilma não fez muito para irritá-los, apenas o essencial. Colocaram o neto do Tancredo para enfrentá-la. O Aécio era um bon vivant, até os do mesmo partido, tipo Serra, insinuavam abertamente que o rapaz cheirava demais araruta, aquele pó branco que agita a cabeça até de defunto.
O filho de privilégios fez campanha de meritocracia. Quando governador de Minas, tinha posto a irmã para recolher doações das empreiteiras, estercado a fortuna da família. Era bom amigo, protegido pelo Fernando Henrique, o ex-presidente que usava apartamento de milionário em Paris (não era triplex em balneário de classe média). O PSDB sempre se cuidou bem. Continuava bem de finanças, mas tinha saudades de mandar, andar de helicóptero sem enfrentar tráfico, passear em companhia de intelectos deslumbrados e de jornalistas que gostam do bem bom.
O PSDB achou que ia tirar de letra. Tinha um rapaz bonito para liderá-lo, bem falante, grana ilimitada para a campanha, máquina de propaganda e, acima de tudo, o apoio firme e convencido da grande mídia, especialmente da maior rede de tv. Chegou perto. Mas perdeu.
Isso deixou irritados os que não levaram. Acharam que precisavam fazer alguma coisa. A primeira das quais foi contestar os resultados da eleição. Pediram recontagem, verificação dobrada, insinuaram fraude. Não conseguiram provar.
A partir daí usaram o método conhecido, já usado com sucesso tantas vezes, no mundo inteiro: tornaram impossível a vida da vencedora.
Todas as receitas de governança, que sempre propagaram como indispensáveis, foram abandonadas. Acharam no líder carioca de quadrilha parlamentar, um aliado. O Eduardo Cunha era deputado mas tinha um site chamado Jesus.com. Extraia belíssimas comissões para aprovar na Câmara qualquer projeto. Depositava os proventos em contas fora do país.
Arranjaram consultores jurídicos em São Paulo, onde tem advogado pra tudo. O PSDB pagou para uma desmiolada fazer um documento incriminando a Dilma por pedaladas fiscais. E tascaram as chamadas pautas bombas. Iniciativas para estourar o orçamento, tornar impossível governar. Até ex-membro do PT ajudou a Janaína a fazer o documento da acusação.
Uma senadora filha de outro senador ruralista, cuja campanha foi financiada pela JBS, foi escolhida para bater bumbo. Seus discursos eram inclementes, insinuavam tudo de ruim.
Descobriram corrupção na Petrobras. E culparam a Dilma. Que ficou confusa. Até velhos funcionários da empresa tinham roubado. Um vazamento de documentos de órgãos de inteligência americanos revelou que os telefones da presidente tinham sido grampeados, suas conversas eram gravadas. As comunicações internas da Petrobras também.
Vale aqui uma advertência. Tem corrupção em tudo quanto é lugar. A tentação de levar grana rápida por baixo do pano é universal. A traição é tão velha quanto a mais velha das profissões. Dizem até que um anjo prestigiado que andava perto de Deus -- o nome dele é Satanás -- passou para o outro lado e continua fazendo arruaça no pedaço, com muito sucesso.
A única forma de evitar é dar carta branca para órgãos de investigação, torcendo para que não se corrompam também. Como aconteceu com alguns procuradores em Curitiba. Acontece agora com o procurador geral da república, um senhor que acha que sua missão é encobrir lambanças. Indispensável, também, é desligar ainda mais rapidamente os que podem ter se corrompido. E lembrar que os mais moralistas são em geral os que também roubam com mais entusiasmo, ao mesmo tempo em que apontam corrupção por todo lado. Continuemos.
Derrubaram a Dilma, subiu o Temer. Que gradualmente foi eliminando os melhores programas do PT. E facilitou o roubo maior, por meio da Petrobras.
Quando se fala em golpe, em geral não se lembra de uma operação extraordinária, feita à luz do dia. Autorizaram a venda de poços do pré-sal a empresas estrangeiras, a preço de banana. E isentaram os lucros dessas empresas estrangeiras, no uso desses poços, por dez anos inteiros. Coisa que não se fazia com a Petrobras, nem se faz agora mesmo com o mercadinho da esquina. Só a isenção, calculou-se na época, custaria cerca de um trilhão de reais. Deram de graça. Pensar que ninguém ganhou com isso é acreditar em conto da carochinha e em Papai Noel.
Um rapaz chamado Pedro Parente, que tinha trabalhado para o FHC, foi nomeado presidente da grande empresa brasileira de Petróleo. Para começar, mudou a política de preços. Embora o petróleo aqui consumido seja extraído em sua maior parte em território brasileiro, com custos locais, quase irrisórios, no caso do pré-sal, começaram a cobrar pelo combustível os preços mais altos predominantes no mercado internacional . Isso gera lucros extraordinários. Que estão sendo distribuídos a cada trimestre aos investidores da empresa, a maior parte dos quais estrangeiros.
Para diminuir a revolta que isso está causando, nosso impoluto Jair Bolsonaro e seus apoiadores conseguiram reduzir impostos e taxas locais cobrados na venda do petróleo. Isso reduz o orçamento de governos estaduais que poderiam ser gastos no atendimento de necessidades locais. Mas Jair quer sair como defensor do povo graças a esse artifício, que continua distribuindo dividendos bilionários para os que tem mais, à custa do povão.
Os bons negócios continuam. Os sinais são aparentes e alguns segredos revelados com frequência mostram que nunca se roubou tanto, muito mais agora, nas vésperas das eleições, quando se desconfia que a mamata está acabando, Lula pode ganhar.
Quem olha de cima, percebe o mapa, vê quem está ganhando muito com o golpe e quer continuar. Nestes dias antes das eleições, o juiz de Curitiba, que tinha rompido com Jair lá atrás, parou de fingir. Declarou que apoia o presidente. Demonstra assim que a dança foi para enganar. A distribuição de armas, centenas de milhares, foi principalmente para a bandidagem. Faz parte de um amplo assalto à mão armada.
Isso é o que Jair representa. O povo está percebendo. O rapaz tem que cair. O Brasil vai mudar. Não demora
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