Tem eleição toda hora. Tem as leves, a cor da camiseta pra usar na manhã de quarta-feira. Alguém elege a casa em que vai morar. Ela elege o namorado, que pode ser o amor de toda vida. Elege-se um caminho, um programa, um candidato. Nações escolhem o seu destino.
Essa eleição que está chegando, daqui a poucos dias, é dessas: séria, importante, pode fazer toda a diferença.
Ele era pouco conhecido. Pouca gente fora da roda dos policiais e milicianos sabia quem ele era, antes de 2016. Talvez um evangélico ou outro, dos que leem muito Deutoronômio, aquele livro da Bíblia em que um Deus diferente do que se propaga aqui dava as ordens. Esse Ser Divino mandava matar cidades inteiras, velhinhos -- tipo eu -- e criancinhas. Só porque adoravam outros senhores. Ele não era a favor de democracia, liberdade de pensamento, direito de discordar. O negócio dele era matar. Impunemente.
Pois é, os rapazes que preferem esse Deus antigo, acabaram dando nos pastores bolsonaristas de hoje, em católico de antigamente, que abençoava navio de guerra e canhão, e nuns radicais muçulmanos, que são poucos, visto que a maioria é da paz (tem outras crenças que estimulam a guerra mas vamos falar delas depois).
Mas aí, por volta de 2015, 2016, esse pessoal mais chegado a briga achou que o PT estava levando demais. Se continuasse do jeito que estava -- ênfase em fome zero, médico em tudo quanto é canto, moradia barata pra pobre, com toda dignidade -- ia ficar no poder pra sempre. Acharam que tinha que dar um basta. Foi aí que inventaram aquele asno de Maringá, uns procuradores corruptos (o chefe era batista, homem santo do pau oco) e deram toda corda pra eles.
Político picareta, que usa o pouquinho de poder que tem para engordar e se enriquecer, achou que podia ganhar se entrasse na onda. Teve uma ajudinha de fora, gente como o Bannon, mas não podemos exagerar a influência deles. A verdade é que temos gente ruim, muito ruim, aqui mesmo, não precisa de ajuda externa, embora quando vem uma ajudinha nunca é demais. Lembre que demoramos aqui mais do que os outros para acabar com a escravidão oficial, legalizada, com apoio do pessoal que manda. Tempos bons dos capitães do mato, tem alguns ainda (uns poucos milhares).
Voltando ao Jair, era um ilustre desconhecido. Mas casou com o movimento maior dos que queriam se livrar do PT. Qualquer geringonça servia para essa campanha. O débil mental de Maringá que tinha mudado para Curitiba, os rapazes liderados pelo homem santo batista. Não esqueça o orgão oficial deles, grande rede de tv, rádio, jornal, revista, com as bocas de aluguel, que falam o que o patrão manda. As emissoras dos pastores ajudaram, tudo em nome do Senhor.
Fizeram campanha cerrada. Alguns gatos pingados da esquerda, que venderam a alma, tipo José Serra, moralistas desatentos, lembra dos discursos lavajatistas da Tebet, até do Geraldo Alckmin, passando pelo centro despeitado, tipo Aécio e Temer, dos oportunistas puros, completamente sem vergonha, como o João Dória -todos eles participaram. Jair não estava inicialmente nos planos dessa gente. Caiu de paraquedas mas, pensando bem, até que servia. Era um desmiolado completo, ia ser um robô obediente, faria tudo que o andar de cima mandasse.
Tudo seguia nessa toada até que conseguiram criar um clima de histeria para prender o candidato mais popular, com vitória assegurada, que foi tirado da jogada com luvas de pelica. Dá-lhe propaganda falsa, tubo de esgoto despejando dólar cada vez que o jornal da Globo dava notícia do PT, falação constante dos pastores, frenesi da Faria Lima, que soltou boa grana para sustentar fake news. Veio então a chave de ouro, a facada sem sangue, cobertura 24 horas por dia, todos os detalhes do sofrimento do Jair, que virou popular, novo herói, o partidário de tortura, de arma pra todos, bandido e cidadão do bem, até os rapazes do “Ceará” pra confundir. Os que não concordam devem se lembrar da frase “ele está preso, seu babaca”.
A verdade é que faltava alternativa séria para esse grupo. O que havia era uma multidão de egos. Houve até o que trocou de roupa e passou a vestir modelito bolsodória. Atrás de tudo, o fascínio exercido pelo juiz de Curitiba, apoiado integralmente pelo TRF4, de Porto Alegre, até por juiz do STJ, em Brasília. Quem poderia dizer que em tudo isso havia uma enorme treta, colossal?
Quem conta a história é o vencedor. A versão que estava quase pronta pra ser a narrativa definitiva era essa. Ia ter gente reclamando, no caminho, mas não colava fácil. Mas o mundo não é perfeito. Nem sempre o pacote mais vistoso, embrulhado com fitinha amarela, cheirosa, dá certo. Um rapaz do interior de São Paulo, meio perdido, começou a brincar com o celular. Conseguiu entrar na conta de telefone de gente lá de cima. Chegou no juiz, nos procuradores. Opa, achou ouro.
Foi aí que a narrativa que tinha tudo pra dar certo desabou. Descobriram que havia uma enorme conspiração. Era tudo mentira, deslavada.
O pessoal da Globo ficou confuso. O ministro Barroso ficou nervoso. Alguns jornais, revistas, não conseguiram fugir dos fatos, o que prova que há contradições, nem tudo está perdido. O mundo da lavajato caiu. Pedra por pedra, foi desmoronando.
Ainda tem gente gritando lulaladrão, mas já nem todos acreditam. Ele não mora em triplex do Guarujá, nem em sítio com pedalinho. Ainda está no mesmo apartamento do ABC. Quem esconde criminoso é o advogado do presidente Jair. A família do Jair é que ficou próspera com rachadinha. Os assessores do general Pazuello estavam cobrando um adicional em dólar para comprar vacina indiana. Tinha pastor indicado pelo Planalto pra percorrer prefeituras oferecendo facilidades em troca de barras de ouro. Quando descobrem tramóia o presidente esconde com sigilo de 100 anos.
Mas isso tudo é detalhe. Nesse período desde o golpe contra a Dilma o Brasil deslizou, para trás. Estávamos perto do sexto lugar no ranking das maiores economias, agora estamos em décimo terceiro. Isso sim, é sério. Atrasou o país inteiro.
Se continuar assim, vamos continuar escorregando. Ninguém sabe onde acabamos, mas já se pode saber que é bem lá na rabeira. Muito dos que apoiaram o golpe contra a Dilma e apoiaram a ascensão de Jair perceberam. Estão perdendo. Apoiar o genocida é perigoso, não vale a pena.
Voltamos à abertura. Tem eleição aí. O Brasil está no encontro do seu destino. A escolha deve ser certa. Se errar, o preço será caro demais.
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