Partia daquela asserção ideológica segundo a qual tudo era igual. Os dois partidos na política externa americana eram não só iguais mas, à sua maneira, um era pior do que outro. Um - os democratas - inicia as guerras, faz maldades contra a humanidade, bombardeia e mata gente como se fosse rato. O outro - os republicanos - continua matando, faz as mesmas maldades mas, num determinado momento, acaba com a guerra. Outra começa logo ali adiante. E a vida continua.
Você fala com eles, os dois, indistintamente, conhece a mulher, o marido, seus filhos brincam com os deles, encontra na fila do cinema ou no mercado e diz "oi, tudo bem, "como está".
Ele está do outro lado da rua, é seu vizinho, acaba cruzando toda hora. Se você leva seu filho no sábado ou domingo pra jogar futebol é com eles que encontra, sentado na grama, gritando para o filho dele ou para o seu filho, entusiasmado quando um ou outro chega perto do gol.
E um deles comenta o que fez no dia de ontem ou vai fazer amanhã. Um é o diretor da CIA, outro do FBI, outro é o piloto que diz que esteve em Saigon, ou no Rio, foi falar com o o rapaz do governo ou foi bombardear. Vira conversa entre amigos. Um reclama que o seu general está duro de roer ou que o seu político é simpático, uma graça.
Eles têm fidelidades diferentes, um é democrata o outro republicano. Mas lá fora é tudo igual. Entenda que há exceções. Vai sempre achar um que diz que o outro é assassino, que nas discussões internas há dissensões.
Estou agora longe disso. Saí do circuito fui viver no mato. E vejo as discussões nas vésperas das eleições desta semana. Um defende a previdência, a social security, outro quer acabar. Um acha que deve continuar o auxílio médico gratuito para a velharia, medicare , outro diz que é um desperdício. Um diz que foi bom acabar com o aborto mas você sabe que a mulher dele foi abortar na mesma clinica onde sua própria mulher ou amiga abortou. Um quer acabar com essas preferências para os negros nas universidades ou no emprego, dar uma pequena chance ao neto do escravo. Ou bisneto ou trineto.
E aí você vê que não é tudo igual. E que essas pequenas coisas que faziam um melhorzinho que o outro estão pra acabar.
E aí você lembra que foi com o exemplo desses pequenos avanços que eles fizeram que aqui também se avançou. E agora esse exemplo vai acabar.
Os republicanos, comandados principalmente pelo Trump, mas tem alguns até piores, querem voltar o relógio. Acabar com a colher de chá. Você não entende, acha que são loucos. Mas são eleitores pobres, classe média que topam esses programas de tudo acabar. Vão votar.
E lá fora tem guerra. Os europeus estão indo no mesmo caminho. Se deixando colonizar por ideias que vão atrasar todos eles. Mas estão caminhando feito cordeirinhos. Eram mais inteligentes mas ficaram burros.
Tudo igual? Não é. Mas parece. Meu dilema continua.
Nós nos achamos impotentes mas não somos. Acabamos de votar no Lula que é melhor. Mas foi por pouco. Se não ficarmos atentos essa luzinha bruxuleante pode também apagar.
Muito bom. Os cami nos prevalecem pela tangente.
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