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Churras de Gambá Azedo - Parte II - Cenário Externo (por Frega jr)

 

A figura de Lula como um dos líderes mundiais de maior representatividade criou uma onda de simpatia ao Brasil, após quatro anos de isolacionismo, truculência, alinhamentos automáticos e isolamento.

O próprio Chanceler, exonerado por ter criado um ataque injustificadamente truculento contra uma senadora, a gota d’água, expôs na formatura de novos diplomatas o seu orgulho do Brasil haver se tornado um pária no concerto das nações. Concerto na visão dele, globalista e abortista.
Os qualificativos às nações são enigmas a serem um dia, quiçá, decifrados.
O fato real é que o mundo se apressou no reconhecimento da eleição e impediu a tentativa de um golpe de estado que estava, tudo indica, gestado e pronto para eclodir. Não se pode desconhecer que o governo foi exercido de fato pelo consórcio dos marechais, o mesmo que forjou o mito.
(V. série de 8 artigos em  http://fregablog.blogspot.com/2022/08/de-proscrito-mito-parte-i-o-resgate-da.html)

Não obstante, as ações programadas para a desestabilização democrática foram desencadeadas, já não mais com o reforço da vitória do projeto autoritário nas urnas, mas em contestação às próprias urnas, ainda que as mesmas urnas tenham sufragado sua vitória majoritária para o Parlamento e em diversos Estados da Federação.
O reconhecimento internacional e a requisição de participação ativa de Lula em fóruns e reuniões bilaterais com outros governantes, mesmo antes de sua posse, ajudou a inviabilizar o golpe programado.

Porém Lula enfrentará um mundo totalmente diferente de 2003, quando deu início a sua consagração internacional como grande estadista.
Era um mundo com hegemonia do maior império em força militar até hoje registrado na história da humanidade. De certa forma, esse fato também limitava os conflitos aos de interesse do próprio império. Quase uma reedição ampliada da Pax Romanae inaugurada por Otávio Augusto.
Era um mundo mais simples para a gestão de um país importante como o Brasil, mas periférico.

Nesses vinte anos o império entrou em decadência acelerada. Antagonistas surgiram e se fortaleceram. Não há mais hegemonia, a grande potência emergente, a China, já disputa a primazia. Forma-se um mundo multipolar.
A ascensão de Trump introduziu conflito nas relações internas e externas. Fez ressurgir uma extrema direita que se supunha extinta após a IIGG.

O mundo ficou mais perigoso e instável com Trump.
O Brasil, país com maior peso específico na América Latina e considerado como seu quintal privilegiado pelos Estados Unidos, experimentou também uma guinada para a extrema direita em 2018, com características ainda mais fascistóides.
O alinhamento foi automático e escrachado, a ponto de se abandonar a tradicional escola diplomática do Itamaraty e submeter-se direta e explicitamente os interesses estadunidenses. Pela primeira vez, exemplificando, um general brasileiro serviu em uma unidade estrangeira com subordinação direta a um general estrangeiro. Com direito à continência à bandeira estrangeira. Coisas inéditas aconteceram.

A derrota de Trump e posse de seu opositor Biden desguarneceu o governo brasileiro, que se já havia se isolado dos outros países. Deu início a uma fase agravada de ausência de política externa, inclusive quanto a nossos vizinhos, que tradicionalmente viam no Brasil o irmão mais forte.

Pois bem, ocorrem agora as eleições intermediárias parlamentares nos Estados Unidos, com forte probabilidade do partido de oposição ao atual presidente compor uma maioria.
Isso dificulta as ações do governo Biden e dão uma indicação de possível volta de Trump, ou, caso condenado pela baderna que promoveu na derrota eleitoral (e que Bolsonaro tentou repaginar em terras tupiniquins) o impeça de disputar a presidência, do trumpismo, que mostra sinal de força para fazer o próximo presidente dos Estados Unidos daqui a dois anos.

O governo brasileiro andará numa corda bamba.
Os interesses nacionais sinalizam que compor e fazer parte como ator no mundo multipolar trará vantagens significativas ao Brasil pela participação de acordos multilaterais.
O Brics ganhará força, surfar nessa onda é vantajoso para o Brasil. No entanto, será pressionado pelos Estados Unidos para manter-se em sua restrita órbita de influência.
E aí surge Bolsonaro como o agente da chantagem e será utilizado como uma espada de Dâmocles a assombrar o governo Lula. E com toda força pelo racha eleitoral.
O governo Biden se posicionou claramente contra o viés golpista que vicejava nos quartéis generais no Brasil. Era o plano, difícil não perceber isso.
A oposição do governo estadunidense foi o fator que aquietou nossos marechais golpistas. Mas o governo Biden pode jogar com esse trunfo, ameaçar soltar seus cachorros. Apoiar um golpe, por exemplo, não seria a primeira vez que um governo democrata o faria. E nem um republicano também. 

(V. análise de Roberto Garcia https://blogdopensamentocritico.blogspot.com/2022/11/a-diferenca-esta-na-diferenca-por.html)

Caso se configure a vitória Republicana para o Congresso em Washington, esse cenário fica mais factível.
E caso o trumpismo vença as eleições presidenciais, que ocorrerão em 2024 (as nossas municipais também), a exigência para alinhamento ideológico será de tal ordem que ficará insustentável.
Ou seja, independente do jogo de cintura de Lula, reconhecidamente um craque, haverá churrasco de gambá azedo no Torto.

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