A campanha eleitoral revela muito a respeito dos candidatos. De uma ou outra forma, eles mostram suas personalidades, seu grau de conhecimento e, às vezes, a sua ignorância crassa, a ousadia com que pretendem os cargos mais altos da República, as fraquezas do seu caráter.
A campanha também mostra melhor os grupos que se formam em torno dos candidatos, os aliados mais próximos, os que juntam a eles por convicção, compartilham uma visão do mundo, e dos que seguem por conveniências de diversos tipos, dos querem se aproveitar, subir com eles.
A campanha mostra como os grupos de interesse que pouco têm em comum se aliam ou se dividem, fica mais fácil perceber o que eles realmente querem, o que denunciam, com o que eles compactuam.
Isso é interessante. Para os que observam com atenção, a campanha mostra muito também a respeito dos seguidores. Não são apenas os candidatos que tem essa virtude ou defeito. O que eles realmente pensam. Sua capacidade de perceber inclinações, o que eles consideram necessário ou tolerável. O grau de sinceridade das pessoas que se aliam ao candidato fica mais perceptível.
A natureza última do caráter se vê nessas horas. O que em geral está escondido aparece. Muito além das palavras-chave tão repetidas, tem sentimento bom e mau, tem solidariedade, egoismo, tem hipocrisia. Tudo fica mais exposto nessas horas. Dá pra reconhecer melhor as pessoas.
Quem segue candidato que quer mais educação pública, gratuita, acha isso prioritário numa nação de ignorantes, é quem acredita que o ser humano pode aprender, ser melhor, esclarecido para tomar decisões bem pensadas. O que apoia o candidato que quer mais armas acha que, no fundo, no fundo, o que resolve e fala mais grosso é a ameaça, o próprio tiro.
Seguidor que aceita generalizações grosseiras, tipo "é tudo corrupto, tem que acabar com isso de uma vez por todas", mostra falta de compreensão da natureza humana. Não percebe que ele próprio, seus mais próximos, tem defeitos que nunca foram corrigidos. Esperar que isso se resolva de uma vez, em nível nacional, mostra quão pouco ele entendeu, o quanto é difícil corrigir problemas corriqueiros.
Não é fácil entender quão complicado é mover um país inteiro para um ou outro lado. Como opções políticas são importantes, logo no começo, porque suas consequências se espalham , os resultados podem levar à grandeza ou ao desastre.
Quase todos sabem que o Brasil é um país rico em quase tudo. Ao contrário do que se diz repetidamente, o povo é bom, pode ser estimulado a agir sabiamente, basta ser melhor explicado, extrair dele próprio as melhores lições, a compreensão profunda da vida. Uma visão dessa grandeza do país, generosa em relação ao povo, pode fazer a diferença.
Percebemos agora, mais claramente, como decisões erradas podem levar ao caos, à desunião, à fragmentação do país. Como o ódio se espalha, como uns grupos passam a achar que o outro não presta, que a solução é destruição do que está. Como um desmiolado que fazia arminha com sorriso simpático pode virar presidente e desmontar o que funcionava, sem tomar uma iniciativa para construir melhor.
Milhões de pessoas vivem hoje com assistência pior na velhice, não contam com acesso fácil a mais médicos, deixaram de ir à escola, foram condenados a uma vida mais pobre. Se antes o país era visto com admiração e respeito, hoje é olhado com desconfiança, não mais como sério, não serve de exemplo. A desgraça foi composta por uma pandemia. Que deixou centenas de milhares de mortos, enquanto o líder sorria.
Essa reversão, a opção pelo atraso, ocorreu por causa do líder, da elite, dos seguidores inconscientes. Muitos deles acharam que tanto faz. Foi opção errada. Não entenderam o que estava em jogo. Difícil pensar que, confrontados agora com os fatos, os resultados a um lado tao pífios e tao devastadores, a maior parte dos seguidores estaria disposta a repetir a dose. As pesquisas mostram que perceberam.
O povo não é gado. O simples uso dessa expressão demonstra arrogância dos que se consideram superiores, iluminados. Os mesmos que ficaram intimidados, confusos, não reagiram a tempo com a firmeza necessária. Não usaram os recursos que tinham ao seu dispor para frear a degringolada.
O povo pensa. Se recebe os insumos errados, uma barragem de fake news, decide erradamente. Não pode ser abandonado, deixado largado à própria sorte. Quem diz que é pelo povo tem que ficar com o povo. Não pode, de repente, achar que já fez o que pode e fugir da liça. Qualquer vácuo é preenchido por aproveitadores.
Tem os que dizem que o homem é perdido, não presta, que a única esperança é a salvação depois da morte. Mas eles sabem aproveitar os momentos da vida que restam. Com muito dízimo.
Bom entender que nada é perfeito. Defeito, erro, não faltam. Podemos distinguir o que é melhor. Que desunidos estamos perdidos. Os que gostam do resultado dos erros dos últimos anos estão felizes, confortáveis. Os que não gostam têm que se mexer. A hora é agora. O momento de mudar está chegando. Há que aproveitar a oportunidade. Não deixar que resvalem outra vez para o caos.
Aos que ainda seguem o líder que está aí devemos mostrar com paciência e respeito o que aconteceu desde o golpe, como as coisas no país pioraram, quanto sofrimento poderia ter sido evitado. A nossa capacidade de sentir empatia está sendo testada. Se os deixarmos à deriva, sem jogar-lhes uma corda para salvá-los, eles continuarão amarrados ao atraso. Serão barreiras ao progresso. Importante trabalhar com eles. Conversar sem tom professoral. Mostrar que somos todos brasileiros, que podemos viver em paz, em harmonia. Isso não é conversa de Polianna. Eles podem ficar conosco. Veja quantos que apoiaram o Collor mudaram de rumo, colaboram agora para o avanço. Outros podem vir. Precisamos de mais números. Se fecharmos essa eleição no primeiro turno, as ameaças vão diminuir, os golpistas ficarão inibidos.
Nem tudo estará resolvido. Temos que garantir a posse, fortalecer o governo, fiscalizar para evitar desvios. O trabalho não pára nunca. Mas quando percebemos que estamos avançando, isso tudo o que se faz dá muito prazer.
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