Tem um rapaz, que passa de vez em quando por aqui, especializado em mandar
fotos de um político, ex-presidente, sorridente, ao lado de figuras execráveis,
corruptos, ladrões, chegados ao golpismo. As fotos seriam provas de conluio,
associação criminosa, participação em quadrilhas. Eu vejo as fotos e não acho
nada.
Nem sempre, quase nunca, elas provam qualquer coisa. São fotos de um momento,
que pode ter sido fugidio, quando a história é mais complexa, tem muitos outros
elementos, fases até infinitamente mais importantes.
Passei grande parte da vida como jornalista. Uma faceta importante de um
profissional desse ramo é a capacidade de falar com todo mundo. Sem
discriminar. Ia falar com pessoas com as quais não poderia concordar. Gente que
dava asco. Mas eu falava com eles, perguntava, tentava entender as ideias que
os moviam, as vezes almoçava e jantava com eles, eu ia aos eventos e as vezes às
casas deles. Eles vinham, convidados, à minha casa.
Meu negócio era informação. Precisava
entender o que estava acontecendo. O que eles pensavam, como agiam. Com quem se
relacionavam. O que planejavam.
Isso tudo era importante para eu poder saber, escrever, informar. Só lamento
agora não ter procurado mais essas pessoas.
Jornalista, admito, é um bicho diferente. Se mete em situações onde outros não
querem ir. Nem devem. Mas a obrigação dele é fazer exatamente isso: ir lá,
olhar, ver o que está acontecendo. E depois contar.
Isso não quer dizer que concorda,
acha bom. São coisas diferentes.
Olho com simpatia situações
semelhantes do político. De todos os tipos. Muito do que ele faz é conversar
com diferentes. Ele representa setores diversos da sociedade. Alguns com os
quais ele não concorda, podem ser importantes, ter causas justas, opiniões que
devem ser consideradas.
A marca do bom político é considerar todos os pontos de vista, buscar
consensos, sem os quais ele fica isolado e pouco pode conseguir. É a prática do
possível.
Para conseguir apoio para suas
próprias causas ele precisa apoiar causas dos outros.
Ele pode ser do Sergipe, mas tem que apoiar ou negar pretensão do catarinense.
Há troca de apoios e de votos. Isso é legítimo.
Isso já foi considerado bom. Hoje,
nem sempre.
Estamos na era do cancelamento, da exclusão. Do nem pensar em atravessar a rua,
ir do outro lado procurar ver se tem algum jeito de fazer acordo para promover
boas causas.
Nem todo mundo é a favor de mais
médicos. Houve estardalhaço quando chegaram os cubanos. Muitos foram recebidos
com xingação por outros médicos brasileiros.
Rapazes e mocinhas que jamais botariam o pé na periferia, em posto de saúde no
meio do nada, para tratar de paciente mal cheiroso.
Os cubanos iam lá. Metiam-se nessas situações. Salvaram muitas vidas. Aliviaram
muito sofrimento. Ajudaram a curar. Foram mandados de volta sem cerimônia.
Os donos das escolas particulares não querem ouvir falar de ensino público e
gratuito. Vão fazer oposição cerrada e arranjar todo tipo de desculpa para se
opor a algo indispensável.
Para dobrar esse tipo de oposição, e
muitas outras, será necessário muita conversa, concessão, troca de favores.
Tudo custa dinheiro. Quantos,
moralistas, ciosos pelo equilíbrio fiscal e estado mínimo, vão se insurgir
contra mais programa governamental para ajudar gente pobre, que só quer moleza,
bando de vagabundos.
Vá lidar com essa gente, com atitude
imperial. Usar argumentos de justiça, dizer que precisamos de um país mais
igual. Não sai nada.
Para conseguir a anuência deles, pelo menos neutralidade, ser a necessária
muita conversa.
Há, é claro, hora em que não tem conversa, rompimento e denúncia serão o único caminho. Mas acho que na maior parte das vezes, nestes tempos difíceis, o diálogo terá que ser a regra.
Não vai ser fácil. Mas será fascinante.
Unir este país de novo, inaugurar um período de mais civilidade, vai exigir habilidade, tato, paciência e boa vontade.
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