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Desafios, Movimentos e Interesses (por Roberto Garcia)

 

Só tem notícia boa, aqui por estes lados. A mais nova pesquisa diz que Lula pode ganhar, sim, no primeiro turno. Ele tem vinte e cinco milhões de eleitores a mais do que os que parecem ainda dispostos a votar em Jair. Ontem, candidatos à presidência em eleições passadas declararam apoio a ele. O mais importante foi o Meirelles, muito influente no mundo financeiro. Ele disse que Lula tirou quarenta milhões de brasileiros da miséria e criou dez milhões de empregos. A consequência é que o dólar caiu e a bolsa subiu. A resistência do mercado financeiro que já era baixa, tende a esfarelar e se dissipar.
Jair saiu cheio de vergonha de Londres, onde foi para os funerais da rainha do Reino Unido, mas fez comício eleitoral em hora e lugar impróprios. Ele demonstrou que não entende nada, é casca grossa. Vai agora fazer discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU. Certamente vem mais besteira e vergonha.
A pesquisa também confirmou impressão já velha. A terceira via morreu, não tem esperanças, já está com um pé na cova, vai ser enterrada.
Interessante é que a passagem dos votos de indecisos e do próprio Jair para Lula pode tornar dispensável o voto útil de Tebet e Ciro. Até o colunista da tv Globo conhecido por representar o dono já está reconhecendo que Lula ganha no primeiro turno. Antes ele queria valorizar o apoio da grande mídia para o Lula e extrair concessões mas agora isso parece impossível.
Estamos portanto, agora, começando a entrar na discussão de um novo governo. Tanto STF quanto o Tribunal Eleitoral armaram forte esquema para evitar tentativas de golpe ou confusão para a eleição e a posse. Isso força discussão nova. O que esperar a partir de janeiro.
Não há líder com pé de ouro. Todos, eles e elas tem pé de barro. Também descobrimos, meio chateados, que nós também não somos perfeitos, lamentável. Vemos coisas bem feitas, objetos, obras, tarefas, artes. Também achamos coisas que bem podiam ser melhoradas. Tudo é um processo. Um toque a mais até que dá mais graça.
Quando há vontade de contribuir para o bem da maioria, em geral o bem acontece, fica melhor. Quando não existe essa vontade, porque não está a fim, não acredita nessa possibilidade, acha que ela não existe, está mesmo para bagunçar, sempre acha jeito e aliados.
Estamos agora numa dessas. Pensar, que se o Lula for eleito, tudo está resolvido, só vai ter santo no governo, ninguém vai pensar em ter vantagem indevida, que as luzes vão imperar, deixar tudo claro, que todo o terreno vai ser plano, não vai ter ladeira íngreme, que anjos e querubins vão trazer ordem do céu para transformar isso no céu… Bem, dá pra entender, melhor acordar.
Governos são feitos de homens, facções, grupos de interesses. Eles não param de cuidar deles próprios, acham que isso é o certo. Pra fazer qualquer coisa positiva vai ter que remover barreiras, que às vezes são resistentes. Pra conseguir assentimento dessas várias correntes, vai ter que fazer as coisas de forma que elas todas deixem. Nesse caso, o que poderia ser linha reta, acaba sendo tortuosa. É assim. Sempre. Ou quase.
Não estamos trazendo o céu para a terra. A pretensão é mais modesta. Só melhorar. Nada do dia pra noite. Vai ser devagar. Mas tem que ser pra frente, sempre. Realismo vai ajudar. Vai ter gente querendo fazer tudo às pressas, completamente. Vão ficar descontentes, reclamar, eles próprios vão virar barreira. Pra conseguir o mínimo.
Mas sempre é possível avançar. Paciência e diálogo, sem arrogância. Vamos ter que contar com um clima favorável, os ventos lá de fora podem ajudar, tornar possível. Vamos ter que cuidar dos nossos sem virar ameaça para os outros. Muita habilidade, cuidado, convencimento são indispensáveis.
O tempo é sempre curto. Não dá pra fazer tudo. Quatro anos passam rápido. Do meio até o fim já vai ter batalha pela sucessão. As disputas, mesmo entre aliados, vão se acirrar. Muitos vão achar que merecem subir ao topo, vão pedir apoio do chefe. Ciumeira é normal, acontece.
Muitas velhas injustiças tem que ser compensadas. Necessidades novas cujo atendimento é indispensável. Orçamento discricionário sobrecarregado. Não há recursos para todas. Tem bancos do governo que podem ser acionados mas com cuidado. Melhor não mexer nas reservas internacionais. A poupança externa pode ser solução mas é sempre perigosa. Os países de onde elas vem podem aumentar os juros de repente e nos deixar encalacrados, com nova crise da dívida. Navegar nesses mares turbulentos vai ser complicado. O pessoal do mundo das finanças quer sempre tirar o máximo, é inclemente, não pode ser descuidado. Se sentir cheiro de perigo, bate na porta do golpe, outra vez.
Sem contar com os perderam, ficaram de fora.Terão passado o tempo criticando, dizendo o que se deve fazer mas que nada fizeram quando podiam.
O mundo é cheio de desafios. Eles é que tornam a vida interessante.

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