A virada de mesa, o chute nas cadeiras ou, como se costuma agora chamar o fenômeno, o golpe, parece improvável. Muitos setores da sociedade, correntes importantes, já deixaram claro que não topam. Se tentarem, não vai dar certo. Pode virar contra os feiticeiros. Olhem lá, não abusem. Deixaram aviso.
Mas nunca se sabe. A característica principal do golpista é a persistência, a crença nas montagens dele, a convicção de que, apesar de tudo, pode ganhar. Tanto assim que muitos tentam e, às vezes, ganham. Por sorte, a maioria dessas tentativas bate com as fuças na parede.
Mesmo achando que não vai ter, sempre bom saber o que fazer, se por acaso ocorrer.
Há vários caminhos. Um deles é a resistência armada. Tipo: se eles partirem para a violência, as prisões, os tiros, isso muda o jogo, nós também estamos liberados. Não recomendável.
Muitos adotam esse método. Nem sempre com bons resultados. Aqui no Brasil, isso já foi tentado. A guerrilha criou heróis, páginas de glória. E também tortura, mortes. Sem conseguir o que se esperava. Não funcionou, pelo menos aqui.
Os que foram para a luta armada podem até ter ajudado a criar um ambiente de rejeição ao regime militar. Mas isso não foi suficiente.
O que funcionou foi a resistência legal, organização política, convencimento da maioria da sociedade. Processo lento, frustrante. Mas isso transformou os indiferentes, levou-os a achar que ditadura não servia para o país. Nem todos acharam isso, tanto é que ainda temos parte substancial da população que acha que isso é a única coisa que resolve. Jair se aproveita deles. São minoria.
É possível que uma combinação de métodos seja a mais eficaz. Como isto é um país grande, com várias estruturas paralelas, elas são importantes para resistir a um golpe. Os governadores dos estados que ganharem nestas eleições, também serão importantes. Se ganharam, é porque contam com maiorias.
O sistema judiciário também. Há sempre recursos contra ilicitudes. Nem mesmo uma ditadura militar pode desmontar tudo, de uma só vez. Os que permanecerem de pé podem resistir e persistir. Os partidos políticos podem ser proscritos. Mas seus membros continuam vivos e não desistem. As muitas organizações de classe, universidades, artistas, farão sua parte.
Um deles, importante, é a desobediência civil. Não fazer o que eles querem. Fazer o contrário.
É o que já estamos fazendo agora. Não aceitamos os termos que Jair e generais oferecem. Eles quiseram forçar a barra, intimidaram instituições, prevaleceram, por algum tempo. Mas foram se desgastando. Hoje mandam menos. Já não põem medo.
A sociedade civil, organizada, com todas as suas contradições, está vencendo. Isso não se resolve de uma só vez. Há muitas fases. Essa campanha eleitoral é uma delas. Será importante, mas não decisiva. Algo que pareceria normal, a posse do eleito, vai ser contestada. A formação do governo será outra. A implementação de um programa progressista, com muita resistência, virá em seguida.
Bom entender, logo agora, que o processo é longo. Não para. A luta continua.
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