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Quando o Pouco é Muito

As pesquisas tentam verificar as tendências de opinião, às vésperas das eleições. Depois de muitos erros, estão ficando mais sofisticadas. Antes, davam o mesmo peso à opinião de trabalhador, que ganha um e dois salários mínimos e à opinião do que ganha dez salários. O que é errado. Simplesmente porque tem muito mais gente que ganha um e dois salários do que o pessoal que ganha dez. Aprenderam, passaram a levar em conta esse fato elementar.

Nas eleições passadas, não perceberam a enxurrada de manipulação trazida pelas redes sociais. Usando perfis individualizados, permitidos pela inteligência artificial, certas empresas conseguiam identificar o tipo de mensagem que iria impressionar um eleitor. Despejaram mensagens moldadas para esses perfis, todas falsas. Pesquisadores erraram muito. Mas aprenderam.
Estão agora dando os resultados dos levantamentos mas dizem pouco a respeito de um fato essencial. Pouco importa a opinião de uma pessoa a respeito dos candidatos, se essa pessoa não vai votar. É aí que entra o conceito dos votos válidos. O importante é saber se a opinião registrada é de alguém que vota.
É esse o detalhe mais importante, revelador. Lula tem 48 por cento dos votos válidos. Só faltam dois por cento.Se ele consegue esses unzinhos ele ganha no primeiro turno. Vira presidente mais cedo. Desarma as minas que a campanha de segundo turno pode preparar, as armações dos marechais, faz dele um presidente mais forte, capaz de impor uma agenda mais potente de governo.
Essa é a razão da briga em andamento, pelo voto útil. Convencer o pessoal que ainda se prende a candidatos que obviamente não têm chance, a mudar mais cedo o seu voto para Lula. Para derrotar Jair de uma vez, tirá-lo da jogada, impedir que ele e seus asseclas continuem a pôr em perigo as eleições e a posse. Tornar um quadro ainda obscuro, cheio de nuvens, em algo claro, límpido, sem dúvidas e questionamento.
Ah, mas isso é complicado. Os dois que ainda insistem em manter suas candidaturas sabem que não tem chance mas aproveitam estes momentos para jogadas futuras. Não desistem nessa fase porque querem muito daqui a pouco, cobram caro ou não vendem o pouco que tem. Seguram.
Estamos nessa, os dois são Ciro e Tebet. Figuras interessantes, cada um na sua. Tem planos para depois. Sabem que estão num jogo perigoso. Se emperrarem o processo podem dar chance, espaço para Jair aprontar. Essa jogada pessoal deles pode levar o país inteiro a perder, ficar condenado a mais quatro anos de Jair. Trariam desgraça, seriam culpados, vistos como trapalhões, inconsequentes, irresponsáveis, inconfiáveis.
Nestas duas semanas que faltam, eles próprios podem ficar irrelevantes. Os que os apoiam podem mudar de idéia, recusar-se a participar do jogo de cartas marcadas de Ciro e Tebet. Rebelar-se e abandoná-los. Deixá-los sozinhos, no deserto. Definhando, sem chance de sobreviver nesse mundo complicado da política.
O pessoal do Lula hesita em denunciá-los, abertamente. Isso pode embolar, criar complicações futuras. Acha melhor deixar que os apoiadores dos dois percebam o quadro e mudem de lado. Outros, mais nervosos, ficam irritados e andam atirando. Pode não funcionar e piorar. Melhor não.
O voto útil é decidido em cima da hora, por gente prática. Que tem fidelidade aos seus candidatos mas que percebe a inutilidade da sua insistência no caso perdido. Essa hora está chegando. É agora.
Os outros já escolheram, tanto Lula quanto Jair, não parecem inclinados a mudar de posição. Faltam os dois por cento para Lula. Muito mais para Jair.
O calor aumenta, a pressão sobe, as decisões estão se processando. Pode não dar mas também pode dar. Um empurrãozinho pode decidir.

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