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Quem Defende a Independência do Brasil? (por Rafael Castilho)

Tudo bem! Sabe-se que a história é uma fabulação. Uma narrativa construída, quase sempre pelas elites e pelos vitoriosos. Muita historia pra boi dormir. Muita falsificação. Principalmente, muita disputa.

Porém, quem deseja ter uma visão madura e politicamente consequente da história da humanidade, perceberá que os símbolos têm muito poder. Abrir mão da disputa simbólica acaba por ser um erro importante para quem se propõe a participar da luta politica em diferentes níveis.
Mesmo com todas as contradições e deturpações, o bicentenário da independência seria data a ser celebrada. Não para relembrar algo que não se lembra ou para recontar uma história que quase ninguém consegue contar. Mas, vale dizer, que este seria um momento importante para grandes reflexões sobre a independência do Brasil. Se somos efetivamente independentes, se nos tornamos independentes ou o que devemos fazer, pensar, agir ou possuir para que sejamos independentes de fato.
Alguns dirão que a independência do Brasil é uma mentira. Pode até existir alguma razão nessa avaliação, mas a independência verdadeira do país é sim uma necessidade. Não para mera exaltação de um orgulho nacional, mas para que saibamos que, mesmo com todas as injustiças históricas do Brasil, a dependência e a servidão nacional são situações que só podem nos levar a mais injustiças, mais dependência e maior servidão. Dificilmente é possível ser efetivamente livre num país que é escravo e dificilmente se supera a escravidão num país que não é livre. Não existe país livre com povo escravizado e não existe povo livre com um país que se escraviza e entrega numa bandeja os destinos de seu povo.
Triste data esta nossa. Civilizados seriamos se tivéssemos um chefe de Estado que quisesse entender que este seria um acontecimento para todos os brasileiros, independente de convicções politicas e de coloração partidária. Mas é desnecessário esperar alguma grandeza de quem só sabe nos causar repulsa e vergonha.
Triste do país que, numa data tão simbólica, se estarrece com um desfile sórdido de ódio, ressentimento, reacionarismo, fascismo e falsidade.
Triste do Brasil por ver suas cores tão lindas sendo vilipendiadas ao ponto de causar asco, quando deveria nos causar carinho, afeto, solidariedade e amor.
Triste de nós. Nossa bandeira, a camisa do nosso futebol, símbolos que sempre foram sinônimos do sorriso, da criatividade, da inovação. De alternativa para um mundo que nos via de maneira muito mais carinhosa e de alguma forma até nos invejava. Entramos nesse processo com “medo de virar uma Venezuela” e agora o mundo todo tem medo de virar um Brasil.
Quanta hipocrisia. Apropriar-se do conceito de independência, justamente para promover o contrário.
Nada está mais distante da independência do que este espetáculo pérfido de servidão voluntária. Nada humilha mais o Brasil na comunidade global do que o bolsonarismo. Nada nos coloca mais de joelhos do que a miséria, a falta de educação, o ataque à ciência, a burrice, o negacionismo, o ódio à cultura, a pobreza, o racismo, a misoginia, a falta de perspectivas para o futuro. Quem pode ser livre e independente num país como esse?
Nada ataca mais a soberania nacional e a integridade do nosso território do que Bolsonaro. Como seremos de fato soberanos num país que queima e destrói suas maiores riquezas naturais. Como pode ser seguro um país que não se faz respeitar na comunidade internacional. Num país que se torna a cada dia um pária na comunidade global. Que provoca os interesses mais maliciosos de possíveis invasores. Nada mais perigoso do que dividir esse país até à exaustão, para que muito em breve, os mesmos que saem às ruas com as cores nacionais, passem a defender cores regionais e queiram dividir nosso território em feudos servis e em mini repúblicas de banana.
Vai passar, tenho certeza. O Brasil irá resistir. Irá resistir pois nosso povo, nossa cultura, nossa diversidade e o espírito de nossa gente são muito maiores do que o nosso Estado.
Há tempos estão explorando o pior que há em nós. Dentro de cada indivíduo que compõe um país existe o que há de melhor e o que há de pior. Assim é o ser humano. Existe trabalho de inteligência pesada. Muito veneno sendo depositado no corpo e na alma da nossa gente.
No futuro, olharemos para os nossos dias e ficaremos perplexos com a obscuridade. Um tempo em que este país esteve dominado e subordinado a uma seita. Uma seita que deixava as pessoas com uma cara feia. Um olhar estranho. Que revirava as entranhas do ódio e do ressentimento e transformava homens e mulheres – que um dia foram crianças lindas – em receptáculos de espíritos malignos. Obsessores das catacumbas das piores tragédias históricas que assombraram este país.
Eu quero crer sim num futuro melhor para o nosso país. Que possamos voltar a sorrir. Que possamos novamente gostar de nós mesmos, uns dos outros, das nossas cores, do nosso jeito, dos nossos gols, do nosso som. Vai passar!
E um futuro melhor para o Brasil passa necessariamente por um país independente de verdade.
O Brasil não pertence ao Bolsonaro!
Viva o Brasil que se fará independente!

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