
Governantes mais toscos e primitivos apelam para o armamentismo, fazendo da arma o uso político para disputa do poder. Adversários viram inimigos. Argumentos verbais perdem força, o convencimento deixa de ser objetivo, o diálogo e composição se prejudicam.
Aflora o primata original, a lei do mais forte.
No caso, o que possui maior capacidade de eliminar seus adversários. Ou inimigos. À bala.
Nesses últimos três anos, a população acumulou mais armas de uso pessoal do que todas as forças de segurança juntas. E concentradas nas mãos de poucos, exatamente naqueles que acreditam ser a capacidade de intimidar, ou matar seus adversários o melhor argumento social.
É a chamada cultura da violência.
E agora, desenhada a moldura, o motivo principal desta postagem. Lula corre um risco que está sendo subdimensionado, subavaliado.
Estamos em plena reta final da corrida eleitoral. E todas as indicações levam à retirada do poder do atual grupo governante. Isso é uma realidade.
Acontece que esse grupo é exatamente o que acredita da arma como instrumento de poder político. É o grupo reacionário, violento, inconsequente. O alvo dos discursos de ódio.
Há três dias vimos gente desse tipo tentar, sem êxito por mera casualidade, matar a vice-presidenta da Argentina. Lobo solitário? Talvez sim, uma característica desse grupo social é o automessianismo.
Me arrisco a dizer que até o episódio do Adélio, até hoje mal explicado nas circunstâncias e coincidências, ocorreu porque já havia um discurso de ódio sendo criado.
Empoderados por uma arma, se acham capazes de resolver qualquer situação. Não somente na política partidário, mas também na política social, nas circunstâncias das convivências entre indivíduos. Desde discussões no trânsito até para reagir a uma reclamação de um vizinho.
Para esse segmento, o direito alheio se submete à vontade do mais forte.
Lula, como bem definido por ocasião de sua prisão, não é somente um indivíduo, mas uma idéia. Uma eventual ausência sua nessa quadra que atravessamos não seria somente a ausência do indivíduo, mas o comprometimento da idéia. Não se pode correr esse risco.
Ah, perguntarão, mas é só ele que pode representar a idéia de uma sociedade plural e inclusiva? Só ele que corre risco de vida pela truculência patrocinada oficialmente, como política de governo?
Eu digo que não. Mas é o que ameaça mais sensivelmente a manutenção do poder truculento, arbitrário, primitivo. Por isso o risco iminente é o dele.
Seu oponente não corre o mesmo risco, afinal os que pregam e praticam a violência como arma política são seus correligionários.
Lula precisa deixar de comparecer a ambientes públicos. Precisa se preservar até como elemento de garantia ao retorno de alguma normalidade democrática.
Comícios? Sim, mas em ambiente protegido, transmitido em telões.
Claro, no local, o calor das manifestações é o combustível do líder popular. Há uma simbiose de energia que não pode ser abandonada.
Mas Lula em ambientes protegidos do ataque de um sniper, lobo solitário ou parte de uma organização, é imprescindível. Depois de eleito, sua própria segurança será diferenciada.
Fale claramente a seus apoiadores dessa necessidade. Entenderão.
Entenderão que não se trata de medo ou covardia.
Trata-se de derrotar o oposto, o que faz da violência o argumento e da arma o instrumento político.
A idiotice de quem transforma adversário de idéias em inimigo pessoal.
Essa gente é inconsequente. Todo cuidado é pouco.
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