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Um País de Castas (por Roberto Garcia)

O ministro do Supremo Tribunal Luis Roberto Barroso ganha 39 mil reais por mês. No domingo, 4 de setembro ele derrubou uma decisão do Congresso, sancionada por Jair Bolsonaro, que estabelecia um piso salarial de 4750 reais para os enfermeiros. Isso representa 12 por cento do salário dele. Barroso ganha oito vezes mais que poderia ganhar um enfermeiro. Acha que isso está certo.

A razão alegada para a decisão é que se o piso fosse confirmado levaria à falência os hospitais e planos de saúde particulares. A associação dessas empresas disse que o aumento do piso é insustentável, não podem pagar.
A decisão de Barroso foi liminar, provisória, tem prazo de 60 dias. Terá que ser confirmada por outros ministros, da turma ou do plenário do Supremo.
Muita controvérsia sobre a liminar. Vários parlamentares disseram que ela é injusta. O senador Randolfe Rodrigues disse que vai recorrer. Lembrou que o Brasil foi o país em que mais técnicos de enfermagem e enfermeiros morreram, na pandemia. Em vez de receberem apenas aplausos, essa classe de servidores merece reconhecimento na forma de salários, acrescentou.
Recentemente, os ministros do Supremo aumentaram seus próprios salários em 18 por cento. Esses salários servem como padrão para todos os funcionários do governo federal, de altos burocratas aos servidores mais humildes. Entre outras vantagens de trabalhar para o governo federal está o salário geralmente mais alto do que no setor privado e a estabilidade. Não podem ser demitidos, exceto em casos excepcionais.
Mas isso não é tudo. Ao contrário do que geralmente se pensa, o Brasil é um país de castas. Não é só na Índia que isso existe. Há privilégios chocantes. Na roda de militares que cercam Jair Messias, o presidente, há gente que ganhou meio milhão de reais num só mês.
No serviço federal, há mais penduricalhos que árvore de natal. Que alguns consideram direitos inalienáveis. De auxílio-moradia a auxílio de saúde, de educação para filhos menores, gratificações por tempo de serviço, um mês de salário extra para cada período de cinco anos de trabalho, por aí vai.
No serviço federal os privilégios dependem da proximidade com os que tem mais poder. Um motorista de ministro do Supremo pode ganhar mais de 10, até 15 mil reais. O mesmo para os que servem a deputados e senadores.
Isso não se aplica ao povão, que está fora desse círculo. Nesse caso, até o que tem emprego com salário mínimo já pode ser considerado privilegiado. Porque há milhões de desempregados.

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