Luto a luta humana nas tragédias,
a que luta contra a revolta, o não-entender, o não aceitar.
Minha luta particular. A de encontrar a solidariedade na dor,
no revirar das gavetas mais íntimas e, nelas, a percepção.
A percepção da felicidade na tristeza,
a visão dos ciclos da fragilidade humana,
na qual vivemos somente por instantes.
Estou em luto pelo desastre em meu Brasil,
pelo descaso com meu povo.
Mas guardo minha revolta para os atos humanos.
Revolta-me a ambição que causa sofrimento e mortes,
a que troca segurança por dinheiro.
Revolta-me igualmente a miséria que sustenta palácios,
curas de doenças condicionadas e medidas pelos custos,
em que rações são mais valorizadas que comida.
Minha luta pessoal contra a desigualdade artificial,
a criada pela deliberada distinção de oportunidades.
A do desemprego pela priorização da produtividade,
a que reduz o ser humano a um mero número,
a que representa sentimentos em uma cédula.
Minha luta particular.
Minha revolta contra a insensibilidade que brinca
e espetaculariza a dor do próximo em comédias.
A que ri e escarra no sofrimento alheio.
Minha luta pessoal contra pedestais,
contra ícones de pés-de-barro de superioridades,
contra negação de que sangue e vida correm em todas as veias,
em todas artérias. Sem cor, pátria ou outra condição.
Contra o que discrimina por condições inatas ou sociais.
Luto.
Contra a cegueira a sentimentos, contra o ódio.
Ódio que nada mais é do que o vazio de amor.
Esse é meu luto.
Até que o amor seja permeado como o ar que respiramos,
que seja percebido como a oxigenação necessária da alma,
tanto como o ar ao corpo.
Essa é minha luta. Que um dia seja a de todos também.
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