Pular para o conteúdo principal

Quem não conhece o passado, não corrige o presente, não projeta o futuro. E o passado somente pode ser entendido a partir do conhecimento dos atores e circunstâncias.
Com este artigo, encerra-se a série Do Proscrito a Mito, composto cinco partes no total de sete artigos. Creio que ajudará a entender o fenômeno político que nos atropela, assombra e ameaça.

(artigo anterior em https://blogdopensamentocritico.blogspot.com/2022/08/de-proscrito-mito-parte-iv-forjando-o_27.html)

E chegamos assim ao dia do primeiro debate entre presidenciáveis para a eleição de 2022, com o capitão antes proscrito por insubordinação e terrorismo, porém já agora transformado em Mito e utilizado como mamulengo do comando militar, tentando a reeleição por mais quatro anos.

Com isso, os políticos fardados estão a fechar os primeiros quatro anos de exercício do poder. É cedo para emitir juízos sobre acertos e erros, mas é incontestável que o Brasil piorou e desceu vários degraus como potência emergente.

O alinhamento automático aos interesses estadunidenses não deu certo, Trump perdeu a eleição, um balde de água fria.
As medidas neoliberais de anulação da rede de proteção social não deram certo, somente aumentou a miséria, a fome, a exclusão.
A leitura de cenário na pandemia foi equivocada, as apostas foram erradas.
O endividamento nacional explodiu, a inflação com recessão comprometeu o desenvolvimento, nada deu certo no campo econômico.
Os políticos fardados, enquanto promoviam o arrocho geral, deram-se a si todas as benesses e benefícios, em apetite voraz, desmoralizaram a instituição. De uma imagem anterior de respeito, viraram tema de piada cáustica. Perderam a confiança popular.

Foram bem sucedidos, entretanto, na neutralização dos políticos togados e emplacaram dois ministros no STF, ao menos até agora, dispostos a alinhamento identitário ao governo. 

De resto, precisaram terceirizar para grupos essencialmente fisiológicos a gestão orçamentária, para não terem seu governo interrompido por impedimento. Perderam o discurso da honestidade com o dinheiro público.
A tentativa de abrir uma dissidência figurativa com o governante não prosperou, a manobra de criar o ofensor para poder se apresentar como defensor foi vista como realmente é, uma fraude.
Como o mito forjado já possuía projeto próprio de poder familiar, a rede de proteção às falcatruas anteriormente praticadas pela família presidencial, pelo aparelhamento dos Órgãos de investigação e blindagem na PGR, fragilizaram mais ainda mais a imagem dos políticos fardados, vistos como cúmplices.
Inevitável o ressurgimento das correntes de esquerda e centro-esquerda. O resgate político de Lula, pelo reconhecimento das irregularidades processuais dos políticos togados, trouxe-lhe novamente ao centro político.
Os planos de longo prazo no poder ficaram comprometidos. As ameaças de rupturas institucionais não encontram eco, nem interna e nem externamente.
Preparam um recuo tático, um abandono temporário e terreno, o tempo para reagrupamento.

Salvo algum acidente de percurso inusitado, os políticos fardados, incluindo seu fantoche, serão alijados do poder. O objetivo agora passa a ser mirar 2026, com a alternativa de interrupção antecipada por impedimento.
Infelizmente, o fracasso dos últimos anos, apesar da queda de confiança da sociedade civil à instituição Forças Armadas, ainda não será suficiente para consensar e reconhecer sua inaptidão para a gestão e formulação de políticas públicas.
Apesar de tudo, o câncer do protagonismo militar invadindo a política, fenômeno de origem histórica e de difícil solução, ainda não está superado. A quantidade de candidatos militares aos parlamentos neste ano é recorde. Uma boa parte incorporando ao nome sua graduação, patente ou posto, em clara transgressão disciplinar. Uma violação à lei, mas apesar do discurso legalista, de fato nunca se importaram muito em cumpri-la.

E na mais previsível tática militar, o terreno a ser abandonado foi minado, armadilhado. Algumas emendas constitucionais e práticas de gestão orçamentária  transferem o caos deste ano para o ano que vem, apostando que a insatisfação popular levará ao desgaste precoce do novo governo.
A ver se o plano Dick Vigarista funcionará para 2026.
Ou mesmo antes vá se saber.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Diferença Está na Diferença (por Roberto Garcia)

Sempre tive um debate comigo mesmo. Tudo em segredo. Escondido entre as certezas que eu exibia, para não complicar demais e continuar a funcionar numa sociedade complexa que me era adversa. Partia daquela asserção ideológica segundo a qual tudo era igual. Os dois partidos na política externa americana eram não só iguais mas, à sua maneira, um era pior do que outro. Um - os democratas - inicia as guerras, faz maldades contra a humanidade, bombardeia e mata gente como se fosse rato. O outro - os republicanos - continua matando, faz as mesmas maldades mas, num determinado momento, acaba com a guerra. Outra começa logo ali adiante. E a vida continua. Você fala com eles, os dois, indistintamente, conhece a mulher, o marido, seus filhos brincam com os deles, encontra na fila do cinema ou no mercado e diz "oi, tudo bem, "como está". Ele está do outro lado da rua, é seu vizinho, acaba cruzando toda hora. Se você leva seu filho no sábado ou domingo pra jogar futebol é com ele...

O Sábio e o Ambientalismo Popular (por Geraldo Varjabedian - ativista independente)

  Deixemos de lado a discussão sobre emissões de carbono, prognósticos em graus Farenheit, números da devastação amazônica, centímetros ou dezenas de centímetros supostos para transbordamentos oceânicos; ondas de calor, de frio, inundações, ciclones, demais extremos climáticos e outros pontos altos que serão anunciados em tom grave, no próximo ato da ópera climática - a COP 27. Dada a gravidade do que vem por aí – segundo recentes termos do próprio IPCC -, o mundo já deveria estar bem além da renovação burocrática dos votos de transformação urgente do capEtalismo em coisa distinta do que é. Mas é previsível que, além de postergar recomendações mais convincentes para conferências futuras, a 27ª cúpula global do clima, em novembro, no Egito, reitere que o Brasil é, hoje, um país de alheios à pauta e refém de interesses bem avessos, dentro e fora de suas fronteiras. O ecocida, ditador eleito que representará nosso país na conferência é altamente competente em mentiras e tem ampla...

Debates sem Bater (por Frega Jr)

Tivemos ontem o segundo debate televisionado nesta campanha presidencial. Se o primeiro já foi ruim, o de ontem foi um desastre tragicômico. Não, não é culpa do Carlos Nascimento, mediador, um jornalista experiente e com credibilidade. Nem culpa dos demais jornalistas dos demais órgãos da imprensa, que participou em pool. Virou tudo uma palhaçada sem graça, uma tragédia sem dramas, um churrasco sem sal ou uma cerveja morna. Uma chatice só e nada contributivo ao esclarecimento para o voto. A culpa não é dos organizadores e nem do veículo. A culpa é do modelo. Pela quantidade de participantes, ganha a amplitude, perde a profundidade. Em ciclo de perguntas cruzadas, que só servem para levantar a bola numa tréplica ou acusar algum adversário, parece mais uma programação bufa. Os Trapalhões fariam melhor, até o repetido ad nauseam Chavez prenderia mais atenção. Claro, os participantes também não ajudam, repisam as mesmas falas, o mesmo roteiro, as mesmas promessas, as mesmas mentiras. Ne...