Estamos emergindo de um período de governo ideologicamente afim ao neoliberalismo arcaico, de trinta anos atrás, executado por militares utilizando a caneta de um fantoche miliciano e com uma compra parlamentar nunca vista em toda nossa história, que nunca foi dignificante nesse particular.
São cores escuras as das nuvens que vemos no horizonte. Esse
projeto liquidou toda a rede de proteção social construída e ainda em
construção, contestou valores até então consagrados de civilidade, malbaratou
riquezas nacionais, trouxe à tona o reacionarismo latente pré-abolição,
conjugado com o herdado das correntes migratórias europeias que não chegaram a
sofrer os impactos pelos efeitos do nazifascismo, como ocorreu na Europa.
Nabuco afirmou que a escravidão permaneceria por muito tempo como a
característica nacional do Brasil. Foram palavras proféticas. Mudou a roupagem
da escravidão, modernizou-se, porém vive em segmentos reacionários dispostos a
se impor por látegos e chicotes, fuzis e carabinas.
São segmentos minoritários em quantidade, majoritários em poderio econômico. De
certa forma, os mesmos estratos de sempre e que Nabuco sabiamente indicou que
continuariam a ser característica nacional. O poder econômico no domínio de
gado e gente, poeticamente denunciado por Vandré em Disparada.
Esses segmentos são os mesmos que armadilharam o caminho da reconstrução e que
farão todas as escaramuças para dificultar a caminhada.
O antigo reacionarismo rural se alia ao dos cassinos financeiros. Basta ver as
intenções de votos para detectar o cinturão do atraso sócio-político, que se
inicia no sul e descreve um arco pelo oeste até o extremo norte.
Tão claro isso. E quais serão as armadilhas que precisarão ser desmontadas? Em primeiro lugar, o pacote de bondades eleitoreiras.
Quando o governo dos marechais se deu conta de que suas
chances eleitorais eram reduzidas e que um golpe era politicamente inviável,
objeto de recados internacionais explícitos incluindo de seus patrões
estadunidenses, apelaram para uma tentativa de ganhar popularidade junto aos
eleitores.
Com o manejo de verba orçamentária bilionária de uso discricionário, foram
aprovadas algumas bondades populistas, absolutamente inconstitucionais,
contando com a cumplicidade e servilismo da Procuradoria Geral da República
para o blindagem institucional e colocando em xeque o Judiciário.
Essas medidas, que representam gastos bilionários, valem somente até o final do
atual mandato. Ou seja, cobre o período eleitoral.
Caso ocorresse a reeleição, o objetivo já estaria atendido, poderiam ou não ser
renovadas parcialmente no novo mandato e a própria militância se encarregaria
de neutralizar reações pelo estelionato.
Sendo perdida a eleição, o novo presidente já começaria seu mandato com a
impopularidade do fim dos auxílios adicional do Bolsa Família renomeado, a
caminhoneiros, a taxistas e, de quebra, o fim da redução do ICMS nos Estados,
implicando em imediato aumento dos combustíveis.
Ou seja, de cara a inflação já explodiria no primeiro mês do
novo mandato e esse fato seria explorado como consequência da assunção de
segmentos políticos não da extrema direita, o que a militância chama de
comunistas.
É o mote e bandeira que imaginam para fustigar o novo governo e retirar-lhe a
popularidade eleitoral, erodindo sua base de apoio popular.
Essas são as armadilhas mais comprometedoras, verdadeiras
minas enterradas e bombas de retardo espalhadas no terreno da retirada.
Há outras mais endêmicas: a estagnação econômica, o desemprego, o fim da rede
de proteção social, como a liquidação de fato de programas sociais de amparo,
como a Farmácia Popular e das Creches, o comprometimento dos recursos à
educação e saúde pública, tudo isso composto na proposta orçamentária para 2023
já encaminhado ao Congresso e que engessa a gestão no primeiro ano dos
mandatos.
Por essa razão é tão importante a vitória já no primeiro turno, dá legitimidade
às negociações prévias dos novos governantes com o Congresso em fim de mandato.
É hora de os sapadores entrarem em campo.
(sequência do artigo anterior: em https://blogdopensamentocritico.blogspot.com/2022/09/2023-o-recomeco.html)
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